Reitor da Uninter debate modelos de educação em evento da Embaixada do Brasil em Washington
Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de JornalismoTradicionalmente, a Embaixada do Brasil em Washington realiza um encontro anual da diáspora brasileira nos Estados Unidos para discutir realizações e projetos nas áreas científica, de tecnologia e inovação. Segundo o embaixador Nestor Forster Jr., em 2019 foram reunidos mais de 200 líderes no evento.
Devido à pandemia do novo coronavírus, este ano as reuniões acontecem de forma virtual, através de transmissões ao vivo no canal Embassy of Brazil in Washington D.C. O reitor da Uninter, Benhur Gaio, participou do primeiro debate, realizado no dia 16.nov.2020, representando as instituições brasileiras de ensino superior privado. A discussão do webinar Brain Bridges centrou-se no tema A educação na era pós-pandemia: o papel da diáspora brasileira de ciência, tecnologia e inovação.
“Brain bridges são pontes que unem cabeças. A ideia é construir pontes entre aqueles que estão aqui nos Estados Unidos e vocês que estão aí no Brasil”, explica o embaixador Forster.
Além de Benhur e Forster, participaram do debate Wagner Vilas Boas, secretário de Educação Superior do Ministério de Educação (MEC); Duilia de Mello, vice-reitora de Estratégias Globais da Universidade Católica de Washington; e Isabel Rambob, do Conselho para Colaboração Internacional da Universidade de Maryland Baltimore. Lauro Beltrão, conselheiro do setor econômico e de educação na embaixada brasileira, mediou o bate-papo entre os convidados.
Os desafios em decorrência da pandemia
Vilas Boas afirma que os desafios encontrados nesse momento são muitos e que eles vão além do distanciamento social e da impossibilidade de alunos e professores frequentarem salas de aulas. De acordo com ele, é preciso analisar a pandemia sob um olhar mais amplo. Uma das principais questões destacadas é a redução de receita que o poder público e as empresas arrecadam. Isso tem causado a diminuição do investimento público e privado.
O secretário acredita que a missão agora é pensar em novas formas de alcançar os estudantes e promover um aprendizado de qualidade. Para isso é necessário discutir a eficiência do gasto em educação, com a criação e aperfeiçoamento de alternativas para ampliação do acesso e aumento da qualidade.
“O que nós percebemos é que uma tendência de crescimento da educação a distância, que estava prevista par acontecer até 2030, a pandemia apenas antecipou”, destaca.
Neste novo cenário, os altos índices de evasão de estudantes do ensino superior se apresentam como um desafio. Para isso, algumas medidas foram tomadas pelo MEC, como a permissão de aulas remotas para cursos presenciais, a disponibilização de 400 mil chips de acesso à internet para alunos carentes e a suspensão do pagamento de parcelas do FIES para estudantes da rede privada até dezembro de 2020.
“Uma outra questão que tem nos preocupado é o retorno às aulas. O governo editou uma portaria e publicou um protocolo de biossegurança para que pudéssemos também trabalhar no retorno às aulas de forma segura, assim que possível”, afirma Vilas Boas.
A Uninter, uma instituição digitalizada e que possui o EAD em sua essência, contabiliza hoje quase 300 mil estudantes em mais de 600 polos de apoio presencial no Brasil. Benhur afirma que um dos destaques da qualidade do ensino da instituição é a entrega de materiais físicos para os estudantes, tanto livros quanto laboratórios portáteis, que se somam ao conteúdo disponibilizado digitalmente.
“Só nos últimos três anos, nós estregamos mais de 4,3 milhões de livros físicos por todo o território brasileiro. Esta realização é um dos grandes pilares da qualidade nos nossos cursos superiores”, salienta o reitor da Uninter. Responsável pela produção dos livros, a Editora Intersaberes atua há 15 anos no mercado e tem uma produção de aproximadamente 200 títulos por ano.
“Outra situação em relação às grandes dificuldades que nós enfrentaremos no período econômico pós-pandemia é o acesso à educação superior em regiões complexas, de difícil acesso. As pessoas que nós estamos atendendo eram pessoas que estavam isoladas, sem a possibilidade de fazer um curso superior”, ressalta.
Benhur lembra de estudantes de Afuá, na Ilha de Marajó (PA), que se descolam de barco até o polo. Para maior acessibilidade e qualidade de ensino, a instituição mantém convênios para a realização de atividades práticas. Por exemplo, com academias e quadras esportivas para estudantes do curso de Educação Física.
Internacionalização e reestruturação dos modelos de ensino
Diulia de Mello, astrônoma e vice-reitora da Universidade Católica de Washington D.C, aposta que este é o momento de se fazer parcerias entre instituições nacionais e internacionais. Segundo ela “as universidades americanas estão com déficits de estudantes também” e por isso “estão interessadas em internacionalização”.
Com a chegada da pandemia, o modelo de ensino tem sido modificado cada vez mais para o híbrido, em que os cursos são realizados de forma parcialmente presencial e parcialmente online. “Isso vai ser o futuro”, afirma.
Isabel Rambob, da Universidade de Maryland, reflete sobre como será a realidade do mercado de trabalho após o período pandêmico. Ela apresentou dados do Fórum Econômico Mundial sobre o futuro do trabalho, publicado em 2016. O documento aponta que 65% das crianças que estão hoje na escola primária acabarão por trabalhar em profissões que ainda não existem. Os dados divulgados em 2020 preveem que a automação deve acabar com 85 milhões de empregos nos próximos cinco anos.
Pensando nisso, Isabel questiona o que o sistema educacional deveria estar ensinando aos estudantes neste momento. Segundo o relatório deste ano, os jovens devem aprender sobre capacidade de aprendizagem; pensamento crítico e analítico; resolução de problemas; criatividade, originalidade e inciativa; liderança e influência social; uso, monitoramento e controle de tecnologia; persuasão e negociação.
A pesquisadora afirma que, levando em consideração todos esses estudos, um modelo educacional eficaz deve possuir características como agilidade, flexibilização, colaboração, integração e otimização. Para ela, é necessário rever as estruturas organizacionais, sem deixar de pensar a diversidade socioeconômica da população.
“É muito importante fazer uma reformulação de currículos obsoletos, no formato passivo de entrega de conteúdo para uma abordagem mais dinâmica, mais colaborativa, criativa, inovadora e multidisciplinar. É necessário também, diante dessa nova realidade, avaliar como nós estamos preparando os alunos para enfrentar os desafios que estão a nossa frente”, conclui Isabel.
Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de JornalismoEdição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro