Mulheres unidas na luta contra a discriminação de gênero no mercado de trabalho
Autor: Fillipe FernandesO machismo está em todas as camadas da sociedade. Por mais que as mulheres sigam conquistando espaço no mercado de trabalho, os homens ainda são maioria nos cargos diretivos. “Apenas 5% dos CEOs brasileiros são mulheres”, constata Lina Nakata, professora da FIA Business School e diretora da ANGRAD (Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração). A coordenadora do curso de Administração da Uninter, Vanessa Rolon, que é diretora da ANGRAD, participou de um webinar que incentivou trocas de experiências de administradoras e empreendedoras no Youtube (você pode conferir aqui).
“A ANGRAD é esse espaço para debatermos vários assuntos, trocar experiências. Em virtude do Outubro Rosa, trouxemos essas mulheres para mostrar suas trajetórias e conversar sobre temáticas como diferenças de gênero, preconceito, discriminação”, explicou Vanessa. A conversa foi mediada por Lina Nakata e, além de Vanessa, também estiveram presentes a empreendedora e culinarista Bruna Gonçalves, a sócia-fundadora da plataforma focada em equidade de gênero Allice.me Samara Ahmed, e Nadine do Carmo, administradora e apresentadora do programa Balcão Rural.
O bate-papo trouxe histórias de vida e perspectivas de ação para mulheres no universo empreendedor. O Conselho Federal de Administração mostra que os homens ainda são maioria na área, conforme explicou Lina. “Pouco mais de 1/3 das pessoas que se formam são mulheres. O que nos dá 34% de administradoras, um número constante nos últimos anos, principalmente na última década”. O quadro mostra que houve crescimento significativo de mulheres na Administração nos últimos anos – em 1994, elas eram apenas 21% dos formados.
Vanessa afirma que o preconceito em relação ao papel da mulher ainda acontece nas organizações. “Na cabeça de algumas pessoas, a mulher é apenas cuidadora. Isso remete à questão da dupla, tripla jornada. Essa mentalidade reforça a discriminação de mulheres. Na hora da contratação, os gestores preferem contratar homens porque eles não irão sair de licença maternidade, não têm que levar um filho doente ao médico, não cuidam da casa. Nessa mentalidade, a mulher sempre vai ganhar menos que o homem. Uma pesquisa publicada na revista Exame mostra que em cargos de chefia, a mulher ganha 23% menos que os homens”.
Chegar até um cargo diretivo é mais difícil para mulheres graças a um fenômeno chamado “teto de vidro”, que Vanessa contextualizou em sua fala. “O teto de vidro é um fenômeno no qual ela vai ascendendo na instituição, mas depois de determinado patamar, as mulheres não costumam passar dali. É preciso debater essa questão para que ela não continue. Os homens precisam dividir as tarefas, as obrigações em relação ao cuidado da casa e dos filhos, para que a mulher tenha a mesma oportunidade e tratamento que os homens nas instituições”. Mas como mudar essa situação? Para Samara, é preciso que os homens se atentem a sua participação na estrutura machista.
“A responsabilidade do homem de se entender como privilegiado é a mesma responsabilidade que os brancos têm de discutir a branquitude, o racismo. Os erros históricos do racismo não foram cometidos por negros, mas por brancos. É preciso que o homem se pergunte: o que eu faço com meu privilégio? Esse comportamento é que vai determinar como as mudanças irão ocorrer”, pontuou. Samara teve experiências desagradáveis enquanto trabalhou no mercado financeiro.
“No ambiente dos fundos de investimento o machismo é absurdo. Ou você se comporta como um homem, ou você tem que ouvir piadinhas e aceitar assédio. E se você reclamar, ainda corre risco de virar alvo de represália e até seu emprego corre risco. Isso sem falar que para ter o mesmo reconhecimento de um homem, nosso trabalho tem que ser dez vezes maior”. Bruna prefere contratar mulheres chefes de família para trabalhar em sua empresa. “Inclusive, essas pessoas acabam trabalhando com uma força muito maior porque ela é o sustento da casa. Elas têm filhos, então querem levar o melhor para eles. São mais dedicadas, abertas a aprender. Para mim, [contratar mulheres] é investimento certo, sempre funcionou”, comemora.
Quando chega uma colega nova em sua equipe, Nadine faz questão de criar uma cultura colaborativa: “Enquanto mulheres, o que podemos fazer umas com as outras? Se eu posso puxar a sardinha pra gente, eu puxo. Eu sou essa pessoa. Porque a gente precisa se provar mais. Trazendo as mulheres para o time, cria-se uma noção de cooperação entre nós. Administrar é gerir os recursos de qualquer coisa. Inclusive a emoção”. O caminho para a equidade de gênero nas relações de trabalho ainda é longo.
A professora Vanessa mostrou que a administração tem um lugar estratégico para alcançar esse novo entendimento. “É pensar em toda a sociedade, nessa transformação. Não só o lucro pelo lucro, mas o que isso vai gerar em sustentabilidade. Que planeta ficará para as próximas gerações? Como pensar um mundo melhor? Nosso papel de administrador é importantíssimo para a sociedade porque somos agentes de transformação. Tudo passa pelas mãos do administrador, seja nas organizações privadas ou na vida pública”, finalizou.
Autor: Fillipe FernandesEdição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Tumisu/Pixabay