O que diria dos dias atuais o maior pensador da história da Geografia no Brasil?

Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo

O Dia do Geógrafo e da Geógrafa é comemorado todos os anos em 29 de maio e, para celebrar esta data, o encerramento da IV Semana de Geografia da Uninter teve como convidada Olga Freitas-Firkowski, professora na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Observatório das Metrópoles.

O debate neste dia tão importante se deu em torno da vida e da obra de Milton Santos, geógrafo brasileiro, que apesar de ter a formação na Universidade Federal da Bahia (UFBA) em Direito, fez doutorado em Geografia pela Universidade de Strasbourg, na França, e trilhou toda a sua carreia nesta ciência. Foi um crítico do capitalismo em seus estudos sobre a epistemologia da Geografia, a globalização e a ocupação do espaço urbano.

Antes mesmo de começar a discorrer sobre o histórico de Santos, Olga destaca a força dele não só nos livros e nas ideias, mas como ser humano. A professora define ele como “um homem de vigor, tom de voz e postura absolutamente exemplar”.

Ela diz que hoje, com os debates sem fundamentos, o papel da ciência sendo questionado e os achismos, ele “faz muita falta no momento que vivemos”, por ser um homem que mostra a importância de ser estudioso, no sentindo de procurar fundamento, trabalhar conceitos, desenvolver teorias para explicar a nossa realidade.

Olga foi aluna de Milton Santos na disciplina de “Reorganização do espaço geográfico na fase história atual”, em 1985, na Universidade de São Paulo (USP), e conta que guarda boas lembranças e grandes aprendizados do cientista, que faleceu em 2001.

“O debate tem que se dar a partir daquilo que é nos oferecido enquanto conteúdo e não que eu imaginei ‘se fosse eu teria feito assim’. Esse é um aprendizado que eu carrego e ao longo desses quase 40 anos, e que eu acho muito valioso. Eu sempre pensei isso, temos que priorizar a discussão daquilo que nos é apresentado, a partir dos elementos que nos são apresentados”, afirma.

Santos atuava como professor de Geografia Humana quando foi preso na ditadura militar, em 1964. Após solto, se exilou na França e atuou como mestre de conferências no país, onde ficou até 1971. Depois disso, o geógrafo vai para os Estados Unidos e viaja por alguns países, até 1977, quando volta para o Brasil. Segundo Olga, “ao circular pelo mundo, ele não só deixou marcas, mas nele ficaram marcas, da geografia que se discutia e daquilo que se fazia em outros lugares”.

O geógrafo recebeu o Prêmio Vautrin Lud na França, em 1994, e mais 20 “Doutor Honoris Causa” em universidades pelo Brasil, França, Argentina, Espanha e Uruguai, inclusive na UFPR em 2000. Ele teve algumas passagens na universidade paranaense e Olga fala sobre três delas durante a sua fala. Santos publicou 50 livros e 286 artigos durante a sua vida e alguns deles são destacados pela professora.

Olga aborda os conceitos e teorias desenvolvidos pelo profissional e dá sua opinião sobre como o cientista agiria diante de todas as transformações que vem sendo ocasionadas por causa da pandemia.

“Eu acho que ele viria nesse tempo atual a possibilidade de aprofundar o seu pensamento e suas ideias. Porque é isso que a gente está vendo, um aprofundamento desses pares que ele sempre trabalhou. Eu vejo nele hoje, se aqui estivesse, uma pessoa profundamente crítica ao que está acontecendo do ponto de vista político desse país. Ele teria uma lucidez brutal para ser um porta-voz pela autoridade que ele viveu e viveria, se vivo estivesse, como intelectual”, finaliza.

O bate-papo foi mediado pelas professoras Larissa Warnavin e Renata Garbossa e continua disponível na página de Geociências da Uninter a quem se interessar, assim como todas as outras transmissões que ocorreram do dia 25 a 29.jun.2020 na IV Semana de Geografia.

Incorporar HTML não disponível.
Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: mundogeografico.com.br


Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *