Há mais de sete séculos convivemos com armas biológicas invisíveis
Autor: Rodrigo Berté*O dia em que a Terra parou. Um trecho da música do saudoso Raul Seixas — antiga, mas bem atual para o momento que estamos vivendo. 13 de abril de 2020, dia em que escrevo este artigo, em um lugar bem especial, que é fonte de inspiração sempre, próximo do mar.
Após muitas pesquisas e obras relacionadas, resolvi fazer este ensaio e falar um pouco sobre o quanto nos séculos que já se passaram convivemos com inimigos invisíveis a olho nu.
Um exemplo bem conhecido foi a chamada peste negra, ou peste bubônica, que teve início por volta de 1330, na Ásia Central e Oriental. A bactéria Yersinia pestis, que tinha a pulga como hospedeiro, começou a infectar humanos que eram picados por esse inseto. A peste espalhou-se rapidamente.
Em menos de 20 anos estava em vários países, dos quais a Inglaterra sofreu uma grande baixa. A população era de 3,7 milhões de pessoas antes da peste e 2,2 milhões depois dela. Na Itália, a cidade de Florença perdeu 50 mil de seus 100 mil habitantes. Até a família Médici, que governava a cidade, passou por essa epidemia.
Outro caso que pesquisei que chama muito a atenção aconteceu em 1520, uma frota espanhola deixou Cuba a caminho do México. Junto com ela estavam cerca de 900 soldados, além de alguns escravos. Um dos escravos, sem saber, levava em suas células uma bomba-relógio biológica, o vírus da varíola.
Após o desembarque, a doença começou a se multiplicar. O paciente inicial começou a ficar febril, com várias erupções em sua pele, até que uma família resolveu abrigá-lo. Infelizmente, ele infectou a família, que acabou infectando os vizinhos e, assim por diante, a população como um todo.
A esquadra espanhola chegou em março, quando o México tinha 22 milhões de pessoas. Alguns meses após a contaminação inicial, em dezembro, a população caiu para 14 milhões de pessoas. A varíola foi apenas o primeiro golpe. Enquanto espanhóis exploravam os nativos, ondas de gripe, sarampo e doenças infecciosas varreram a região, seguidos de outros casos séculos à frente, como foram a gripe espanhola, o tifo, a sífilis, entre outras doenças.
Neste século mesmo já passamos por muitas, como a SARS (síndrome respiratória aguda grave) em 2002; a gripe aviária, em 2005; a gripe suína, em 2009; e o ebola, em 2014.
Não há muita diferença do que vivemos atualmente com o COVID-19: muitas mortes, informações desencontradas, a ciência colocada à prova, e os hábitos de higiene — tão bem indicados no início do século passado, na gripe espanhola — tomando força como na época, além do isolamento social.
Essa pandemia é democrática: mata rico, mata pobre, mata líder, mata povo. E é o que temos acompanhado na imprensa internacional, como o caso do primeiro-ministro do Reino Unido.
Seremos a geração que vai contar essa história para muitos que virão depois de nós. E deverão ficar alguns exemplos importantes do cenário frágil atual. Devemos respeitar e atender as demandas das autoridades sanitárias.
Esperamos que as decisões que venham a ser tomadas sejam feitas por meio do campo da ciência e não no campo político. Ou seja, muitos governantes não vão querer ser lembrados na história pelos óbitos nas suas cidades, seus estados e seu país.
Por outro lado, o enfrentamento da recessão econômica será outro grande desafio após a pandemia. Não apenas no Brasil, mas no mundo.
* Rodrigo Berté é diretor da Escola Superior de Saúde, Biociências, Meio Ambiente e Humanidades da Uninter.
Autor: Rodrigo Berté*Créditos do Fotógrafo: Pixabay