Atleta-guia, a vocação de quem abre mão do protagonismo para emprestar os olhos a quem quer correr
Autor: Juliane Lima - Estagiária de JornalismoA vida de atleta demanda um comprometimento muito grande, pois é uma profissão que se vive 24 horas por dia. Por causa da alta carga de treinamentos, é necessário abdicar de muitas coisas no cotidiano, como ter mais tempo com aqueles que se ama ou até mesmo de algo banal, como comer um doce numa festa.
Com frequência, esportistas aspiram à fama e à riqueza, e desse desejo tiram sua motivação. Mas existem atletas que se submetem a todas as privações que a carreira exige sem visar o protagonismo. É o caso do atleta-guia, aquela pessoa que empresta os olhos a atletas com deficiência visual.
Tamy Cecy é aluna do curso de Educação Física da Uninter e participou do programa Cenários do Esporte, da Rádio Uninter. Ela contou ao professor Emerson Micaliski que escolheu a atividade voluntária de atleta-guia há 16 anos, quando presenciou o desentendimento de uma atleta cega com a organização de uma das provas de que estava participando.
Sua história no esporte, porém, começa na infância, na ginástica artística. Na adolescência, descobriu algumas cardiopatias congênitas que resultaram em problemas como pericardite e estenose mitral. Essas complicações no coração a afastaram da ginástica e a levaram para outras áreas no esporte, mas nunca a fizeram desistir.
Ela começou a praticar ciclismo, natação e, por fim, a corrida. Então se tornou adepta do triatlo, um esporte que une essas três modalidades. Com acompanhamento médico, realizava provas de alta intensidade e também competições de aventura, em trilhas e montanhas.
O esporte pode ser a cura para muitas doenças, mas também é uma paixão incurável, cujo único tratamento é sempre buscar novos desafios. Um novo desafio chegou para Tamy na tradicional corrida de São Silvestre, disputada em São Paulo, sempre no último dia do ano.
Ela participava da edição de 2004 quando se deparou com uma falha na organização da prova. A largada dos atletas deficientes visuais aconteceu apenas 1 hora antes da largada da prova feminina, e uma atleta cega acabou sendo alcançada pela líder da prova. O batedor, que acompanhava a líder, tentou afastar a atleta cega da rota para que ela não “atrapalhasse” a competidora.
No dia da premiação, a atleta cega compartilhou essa situação com os demais, o que impactou Tamy. Quando retornou a Curitiba, ela começou a pesquisar como poderia ajudar atletas com deficiência visual.
Foi quando iniciou a sua trajetória na profissão de atleta-guia, aliando sua experiência individual como atleta de alto nível com um novo conhecimento: ela passou a conviver diariamente com pessoas cegas para entender quais exatamente eram as suas dificuldades, e de que maneira ela poderia auxiliá-las em diversas situações.
Para isso, foi até a Argentina, onde encontrou outros atletas adeptos da modalidade, e lá se tornou cofundadora de um projeto que aplica aqui no Brasil para formação de novos atletas-guia, e também para todo tipo de pessoa que queira aprender técnicas de como auxiliar um cego no dia a dia.
Ela conta que no país vizinho pôde perceber o quanto a inclusão da pessoa com necessidades especiais é difundida na sociedade, especialmente no caso dos cegos. A preparação dela foi tão complexa que só começou a atuar como atleta-guia em 2011. Passou 7 anos apenas aprendendo as técnicas corretas da profissão.
“Se você não vivencia e não faz uma imersão como eu fiz naquele período, no mundo de uma pessoa com deficiência visual, você nunca vai perceber isso. Eu utilizo o esporte para fazer uma ponte com a sociedade”, conta Tamy.
Ela explica que um dos papéis do atleta-guia é fazer com que o percurso do atleta guiado seja o mais seguro possível. Isto se torna ainda mais importante no caso de provas de aventura, como em montanhismo e trilhas.
“É uma qualidade que o atleta guia tem que desenvolver, ele antevê os problemas e já tem que resolver rápido, porque na hora da prova não tem muito tempo. Estudar a altimetria, estudo do solo, vejo muitas vezes como vai estar o clima, para saber se o solo vai estar liso e escorregadio, para já ter o equipamento correto, tênis correto, para ir para esse tipo de aventura”, explica.
Outra questão importante e muito discutida no meio é a premiação. Quanto a isso, a atleta é enfática ao definir que o vencedor é apenas o atleta guiado.
“O atleta-guia, quando se propõe a ser um voluntário, emprestando os seus olhos para ir participar da prova, ele tem que esquecer tudo isso, ele não é o protagonista. O protagonista é o atleta com deficiência visual. Se ele recebe uma medalha de participação é muito bom. Mas a premiação é do atleta com deficiência visual”, afirma.
A superação no dia a dia
Em sua vida de atleta, Tamy já enfrentou diversos obstáculos que quase a fizeram parar. As complicações cardíacas sempre estiveram presentes em seu caminho, desde a adolescência, e como ela é uma atleta que pratica esportes de alta intensidade, é necessário que tenha um acompanhamento médico mais rigoroso que o habitual.
Em 2012, Cecy estava se preparando para disputar uma prova que é equivalente à metade do percurso da competição Ironman, que consistia em 70.3 milhas entre as modalidades de natação, ciclismo e corrida. No meio dos treinamentos, recebeu a informação de que precisaria passar por uma cirurgia no coração.
Em paralelo, ela se preparava para a primeira maratona de Fernando, um atleta com deficiência visual com quem corre há 9 anos. Ela priorizou a prova do colega, adiou a cirurgia por um tempo e deixou de lado também a competição que iria disputar.
Após realizar a maratona com Fernando, ela foi para a mesa de cirurgia, em janeiro de 2013. O objetivo daquele ano era completar a prova “Praias e Trilhas”, em Florianópolis, com 84 km entre corridas em montanhas, com subidas e descidas íngremes, e terrenos irregulares que exigem alto conhecimento técnico dos participantes.
Um mês após a operação, Tamy já estava totalmente recuperada e voltava aos treinamentos. Ela conta que os médicos não ficaram nenhum pouco surpresos com a rápida recuperação que teve, pois sabem que ela tem uma rotina de exercícios físicos que só trazem benefícios a saúde.
Tamy tinha um objetivo, que era pelo menos completar a prova. E assim o fez, completou a prova em Santa Catarina, e ainda conseguiu alcançar uma excelente marca: ficou com o 3º lugar da categoria na qual disputou o circuito. Ela conta que essa é uma das melhores lembranças que tem no esporte, e fala o quanto é importante nunca deixar de lado o papel social da prática esportiva. “O esporte é uma das maiores construções da humanidade, que conserva, cria e preserva valores e princípios. O esporte, para mim, é a base de tudo”, finaliza.
Autor: Juliane Lima - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Arquivo pessoal/Tamy Cecy
Poxa muito legal essa historia desta campeã, fico muito feliz em ver histórias como esta que nos motiva a cada dia. Eu sou de Manaus estava na faculdade aqui na Uninter no amazonas ,mais por questões financeiras tive que tranca o curso com muita tristeza, sou atleta de jiu jitsu, participo de competições .alguns anos fui campeão univesitario aqui do estado na modalidade,mais infelizmente não ganhei reconhecimeto pela faculdade,e anos seguinte minha mãe veio a falecer, quando eu cai em depressão,foi quando retornei a faculdade pela uninter,e coloquei como meta que só saio formado de la. Estou batalhando para voltar,mais infelizmente aqui em manaus nao temos reconhecimento como devemos ter como atleta.isso me desmotiva.Mas com perseverança e foco irei concluir este curso.quero parabenrizar a faculdade pois a didática é muito boa.eu aprendir muito e espero voltar e breve para concluir meu curso.