ENGENHARIA

Para entender e evitar nova catástrofe como a de Brumadinho

A tragédia causada pelo rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, a 57 quilômetros de Belo Horizonte, completa hoje (4) 11 dias de buscas.

Minas Gerais não tem praia, não é tocada pelo oceano. Mesmo assim, recentemente foi duas vezes banhada por um mar de lama. Muitas pessoas perderam tudo o que tinham, inclusive a vida. Mas não foi a natureza que criou esse “mar”, foi o próprio homem. Coloriu de terra os rios Paraopeba e Rio Doce, calou o canto dos pássaros em Mariana e matou os peixes do “velho Chico”.

No último dia 21 de fevereiro foi realizado, no Instituto de Engenharia do Paraná (IEP), em Curitiba, um seminário sobre segurança de barragens, com o título “Por que as barragens estão ruindo?” O evento contou com a participação do diretor da Escola Politécnica da Uninter, Frank Coelho de Alcântara. Diversos especialistas discutiram alternativas para a prevenção de riscos com obras de engenharia, como a fiscalização pelos órgãos competentes, implementação de controles e manutenção preventiva de barragens no Brasil.

Os temas apresentados durante o encontro abrangeram desde o início do projeto de uma barragem até a fiscalização e a identificação de fatores de risco, além de como contratar o serviço que envolve a atividade de mineração, as relações com a comunidade em torno, o estado e a União. “Um tema técnico como esse deve ser tratado por engenheiros, por isso trouxemos palestrantes para falar sobre idealização de projetos, contratos, aplicação das geotecnologias na engenharia, perícias de barragens e especialistas em barragens a montante”, comenta o engenheiro cartográfico Ferrucio Kochinski.

A Barragem I da mina do Córrego do Feijão se rompeu em Brumadinho (MG) no dia 25 de janeiro deste ano. De acordo com a investigação da Superintendência da Polícia Federal, o principal causador do desmoronamento foi o acúmulo atípico de água seguido de um defeito no sistema de drenagem. No local havia um radar, que a cada três minutos fornecia informações em tempo real sobre a estrutura, além de sensores.

“Esse tipo de barragem possui drenos, e eles regulam uma linha freática de fundamental importância para o equilíbrio da barragem, um dos gatilhos para o rompimento, e sabia-se que a de Brumadinho já apresentava problema”, explica José Rodolfo de Lacerda, presidente do IEP.

 O cenário de barragens no Brasil

O número de barragens no país cresceu de forma acelerada com o “milagre econômico” da década de 1970, além do desenvolvimento da Estrada Ferro-Carajás, e o crescimento do mercado de commodities nos anos 2000. Nos últimos três anos aconteceram duas tragédias em barragens no Brasil. Desastres que dilaceraram vidas e decretaram o fim de comunidades inteiras. Nos locais, o cenário é de destruição do ecossistema e da infraestrutura onde ocorreram os rompimentos.

Segundo informações da Defesa Civil de Minas Gerais, o desastre da barragem de rejeitos de Brumadinho deixou 217 mortos, além de 87 desaparecidos (dados do dia 1º de abril). Em 25 de novembro de 2015, o rompimento da barragem de Fundão, no Distrito de Bento Rodrigues, município de Mariana, deixou 19 mortos e destruiu várias casas, no que foi considerado o maior desastre ambiental do país. De acordo com o Ibama, 11 toneladas de peixes morreram na bacia do Rio Doce por contaminação de minério de ferro. Sem contar os impactos negativos na flora, fauna e espécies da região.

De acordo com o último levantamento da Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB), feito pela Agência Nacional de Mineração em fevereiro de 2019, existem 769 barragens ativas no país, mas apenas 425 estão inseridas no PNSB, deixando de fora 344 outras. Do grupo das 425 barragens sob supervisão do programa federal, 219 apresentam risco potencial associado em todo o Brasil – em dois casos o risco é considerado alto, e em 61, médio. Entre as barragens que fazem parte desse cadastro, 219 estão no estado de Minas Gerais, que tem expressivas reservas de minério de ferro. O Pará é o segundo estado com maior número, com 69 barragens.

“Uma barragem tem o seu fator de risco, visa uma atividade econômica, mas que tem o seu viés técnico, que é a estabilidade da barragem”, afirma Lacerda. O professor da UFPR José Marques Filho, outro especialista no assunto, apresenta sugestões de segurança e gestão de barragens: a criação de um fundo federal para a segurança e atendimento durante possíveis casos emergenciais; pagamento de royalties de mineração para municípios que possam ser impactados; incentivo à formação de engenheiros especializados; auditorias técnicas independentes, entre outros. Todos concordam que são necessárias medidas urgentes para melhorar a gestão das barragens no Brasil e assim evitar que novos desastres aconteçam.

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Autor: Evandro Tosin – Estagiário de Jornalismo
Edição: Mauri König / Revisão textual: Jefferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Divulgação Corpo de Bombeiros de Minas Gerais e Evandro Tosin

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