Os sentimentos da aprendizagem
Na área educacional comenta-se muito sobre os processos de ensino, novas metodologias, inovação digital, conteúdos e projetos. Porém, existe algo muito importante que é pouco mencionado e trabalhado, que é o gerenciamento emocional dos sentimentos dos alunos e até dos professores, na caminhada da aprendizagem.
Segundo estudos do autor Guy Claxton, da Universidade de Bristol, a escolha de aprender ou não aprender é algo elaborado e bastante complexo. O cérebro pode responder de diversas maneiras a relação entre estudante e aprendizado e na maioria das vezes não vemos esses fatores de maneira clara e consciente, não compreendemos nossos próprios sentimentos e consequentemente nossas atitudes em relação à aprendizagem.
As pessoas costumam reagir de maneiras diferentes às mesmas imposições ou situações de aprendizagem. Alguns estudantes entram em processo de fuga, não querem ser notados, não querem aparecer, ser questionados. Outros, por se depararem com dificuldades em entender algum conteúdo, podem entrar em uma atitude de luta, tornando-se agressivo. Outros se sentem angustiados, incapazes. Alguns preferem nem tentar, ao receber um novo conteúdo, já dizem: “Não consigo, não posso fazer”.
Há também aqueles que entram em processo de desatenção, querendo demonstrar uma “não preocupação”, ou pouco caso para determinados conteúdos. Há ainda os que guardam tanto seus medos e angústias que acabam ficando com uma grande tensão e pressão interna. E existem tantos outros sentimentos como medo, vergonha, que se não trabalhados ou ao menos reconhecidos pelos estudantes, mas que podem afetar de maneira drástica o gosto e a vontade de aprender.
Os sentimentos bons também precisam ser reconhecidos e instigados, como a crença em si, a resiliência, a persistência, o prazer em se descobrir coisas novas. Essas questões, apesar de relegadas a segundo, terceiro ou talvez quarto plano, são extremamente importantes para nossos estudantes. Vivemos em mundo agitado, onde as informações correm rápido, com um mercado exigente e muita pressão em relação aos estudos e a construção de carreiras.
E nossos estudantes muitas vezes não sabem lidar com essas situações, não sabem filtrar e acabam desenvolvendo crises de ansiedade e pouca autoestima, o que, infelizmente pode resultar em casos crescentes de depressão.
Portanto, se faz necessário um olhar sério para o trabalho com a inteligência emocional e com os sentimentos envolvidos no processo de aprender. É preciso primeiramente nos reconhecermos no mundo e aprendermos a lidar com suas múltiplas adversidades, para depois tentar fazer dele um lugar melhor. E tudo isso são objetivos inerentes à educação.
* Vanessa Queirós Alves é professora e tutora do curso de Pedagogia na Uninter e pedagoga na rede estadual de ensino do Paraná.
Autor: Vanessa Queirós Alves*